quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A BAHIA DE OUTRORA: CINEMAS

Cinema Roma
          
Antes da chegada da TV,que modificou o modo de diversão das famílias,o cinema reinava inconteste.A soirée dos sábados era sagrada para a maioria dos casais e as matinês dos domingos era a diversão da criançada,onde eu me enquadro.Louca por cinema,vivia “pisando em ovos”durante a semana,para não ser punida com o maior castigo que podia receber,pior mesmo que todas as torturas de Torquemada :ser  excluída da matinê dos domingos,com minhas primas ou com meu namorado.
Havia várias casas de espetáculo na Salvador provinciana  daquela época;o cinema Jandaia,na Baixa dos Sapateiros,o Pax,também lá,o famoso Guarany,na Praça Castro Alves,que antes era teatro,onde se apresentaram grandes nomes da cena nacional,como La Morineau e Paulo Autran; havia o Cine Bahia e o Capri,no Centro,ambos muito luxuosos,com seus tapetes vermelhos e seus ornamentos dourados;e. havia o Cinema Roma,na Cidade Baixa,perto do Bonfim,onde sempre morei,itapgjipana de orgulho e raça,como sou até hoje.
Todo Domingo estava lá,feliz como pinto no lixo,escapando da realidade crua,para cair de cabeça no colo da fantasia.Meus ídolos,Clark Gable(quem não se recorda do seu sorriso,meio irônico,meio sensual,aquele olhar de quem está pronto prá pular nos nossos braços!?),Burt Lancaster,Ava Gardner,(o mais belo animal humano,segundo Hemingway),Doris Day,John Wayne,Tyrone Power,Deborah Kerr,tantos,que povoaram a nossa cabecinha de sonhos ,e,despertaram a nossa sensualidade  e a nossa feminilidade,ainda semi-adormecidas na adolescência,mas,inatas,latentes,desde o nascimento.
O Roma foi o maior cinema que Salvador já teve;suas salas eram imensas e confortáveis,sua tela,magnífica,o prédio onde  se situava,que pertencia ao Círculo Operário da Bahia,com suas colunas imponentes,era a porta de entrada  de um mundo de fantasia e sonho;a caverna de Ali Babá ,onde tesouros de arte estavam ali,á disposição de qualquer um.Assisti,aos mais magníficos filmes do século:Assim caminha a humanidade(Giants),Testemunha de Acusação,o mitológico...e o vento levou(quem não se lembra de Vivian Leigh?),tantos,tantos...
Tenho pena dos jovens de hoje,com um cinema de terceira categoria,que faz a apologia da violência gratuita,representada por canastrões ,que diante dos verdadeiros gênios da 7º Arte,não serviriam nem para varrer os estúdios.O tema é vasto,acho que voltarei;não citei Chaplin,Henry Fonda,Glenn Ford,Marlene Dietrich,Karl Malden,William Holden,Kim Novak....

Texto:Miriam Sales
Visite:mirokcaladoavesso.blogspot.com

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A "INVENÇÃO" DO BRASIL!


O Brasil é realmente um país singular!
É o único que foi descoberto e tem certidão e tudo mais.
Foi um presente de Deus ao rei de Portugal, D. Manoel, pois um país tão pequenino,com apenas dois milhões de habitantes na época do descobrimento,viu-se de repente,de posse de um gigante.E muito rico.E sem derramar sangue!
Vá ser sortudo assim no raio que o parta!
Como a maioria dos homens válidos em Portugal, ou estava guerreando mouros ou nos conventos, guerreando com seus instintos,e,como , para a guerra  vão os jovens,que,invariavelmente,morrem,sobravam velhos e crianças.
E uma população de cerca de  um milhão de mulheres.
Como então povoar o Brasil?
O rei se viu com uma batata quente nas mãos; ou como um sujeito marido de mulher boa, que  não consegue dar conta  do recado e  se vê cercado por fortes garanhões prontos para apanhar a presa: franceses,espanhóis e até,holandeses.
Como desatar o nó?
A Coroa era obrigada a destacar soldados, marinheiros e funcionários para as Ìndias, cujo comercio não podia descuidar;religiosos,nobres,cortesãos e uma súcia de ociosos não se podia mandar a lugar algum,a não ser com prebendas e benesses.
Com tudo isso ,o povoamento do Brasil ficava comprometido.
Como ocupar as terras,habitá-las,colonizá-las e extrair as incontáveis riquezas que este abençoado  rincão  possuía?
Os índios, habitantes do país ,ainda viviam na idade da pedra,indolentes na sua rede,sem saber nem domesticar animais,a não ser araras e papagaios,nem sei bem porque ;acho que daí deve ter nascido nossa paixão por barulho,alto-falantes , trios-elétricos,foguetes e coisa e lousa.
 O gosto do nordestino pela rede e pelo “dolce far niente” deve ter sido originário daí , também.
Os índios também gostavam do tucano, ave mal ajambrada de bico enorme  que hoje tem seu habitat natural em São Paulo.Espécime ,porém,que está quase em extinção.
O certo é que os ET,que dizem, ensinaram aos incas,astecas  e maias os segredos da civilização não passaram por aqui.
Mas, voltemos ao Rei Dom Manoel e seus problemas.
Antes de 1500 era prática corriqueira em Portugal,o estupro da própria mãe.O crime era severamente punido pelas Ordenações Manuelinas, no seu livro V,o código Penal da época: emasculava-se o sujeito.
O Código,extremamente severo,também punia hereges,apóstatas,traição ao Rei,ou falar mal dele(parece que esta punição está sendo aplicada de novo na Venezuela e no Brasil),falsificadores, felação ,assassinatos,roubos,e sodomias.
Sobrava ,claro,para judeus e mouros que dormissem com mulher cristã,padres que dormissem com  mulheres ou uns com os outros,os alcoviteiros,os feiticeiros e os que desrespeitassem religiosas.
Esse código draconiano ajudou muito o Rei.
Por dá cá aquela palha o cidadão era condenado á Colonia,ao degredo perpétuo no Brasil.
Nossos patrícios, que hoje tanto se orgulham do nome que herdaram de seus antepassados ,desconhecem (ou fingem que não sabem)o porquê destas pessoas terem dado com os costados aqui.
Mas,lá na Terrinha,a quantidade de “convocados” para o Brasil vinha crescendo.
 No  estupro da mãe, crime que  os portugueses  já estavam  tratando com mais indulgencia,era dado ao criminoso a escolha de ser capado ou vir para o Brasil.
Todos escolhiam ser capados.

Sobre as Ordenações Manuelinas,é uma leitura interessante e que pode ser encontrada clicando o Google;pode-se ver (e ler)ao vivo e a cores,como eram essas leis que hoje repousam nos anais da Universidade de Coímbra.
Por isso eu repito:O Google é meu pastor,nada me faltará!
ACESSE MEU BLOG:miriamdeslesoliveira.blogspot.com

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

MÃE MENININHA DO GANTOIS,117 ANOS!



Sendo hoje  a data aniversária da “filha de Oxum” mais bonita da Bahia,como toda baiana que se preza quero reverenciá-la .
Mas,não vou contar o que todo baiano sabe de cor:quem era,o que fez,o Terreiro do Gantois,onde viveu e reinou soberana até sua morte.
Em vez de chover no molhado,ou seja,contar o que todo mundo já sabe,quero relatar uma experiência pessoal que tive com ela.
Sempre ouvi falar do Gantois,claro,mas,nunca havia estado lá.
Nos idos de 70 eu vendia livros dos outros e era sócia do Roberto Faissal numa pequena distribuidora que comercializava as obras da Editora Três.
Faissal era um respeitado ator de novelas  -entre outros papéis importantes ,foi o Albertinho  Limonta,da novela “O Direito de Nascer –campeã de audiência nos anos 50,a famosa era do rádio.
Nossas mães e avós eram loucas por ele!
Um dia,Faissal me falou de um problema irresolvível e perguntou se,consultando Mãe Menininha,ela  poderia dar jeito nas coisas.
Falei que ela era a maior ialorixá da Bahia, sobrinha-neta de Mãe Pulchéria , feita de santo desde pequena,portanto detentora da sabedoria dos orixás e guardiã dos seus segredos.
Faissal me pediu para marcar uma audiência com ela.
Procurei o famoso terreiro e fui recebida por Pai Costa,que devia ser obá do terreiro.Ele me disse que Mãe Menininha estava adoentada,recebia uns poucos amigos e não estava atendendo ninguém.
Fiquei um poço desanimada,mas,de repente fez-se a luz.Disse-lhe que Faissal era o ator que fazia Albertinho Limonta na  novela da Rádio Nacional.E que precisava muito dela.
Ele prometeu que ia consultá-la.
Dias depois,passando lá,recebi o sinal verde.
Roberto pegou o avião,no Rio,e  desceu ,esperançoso,em Salvador.
Dia seguinte rumamos para a Federação,onde fica o Gantois.
Enquanto Roberto esperava ,Pai Costa me introduziu para falar com ela.
Afastei as cortinas e me deparei com uma senhora de óculos e serena beleza,cuja face respirava bondade e dignidade.
Seu porte magnífico lembrava a realeza.Mantas com desenhos africanos esquentavam-lhe as pernas.
De repente,firmou a vista,levantou os braços e disse:
_
Héèpà Héè, Oya ò! Iansã,contigo ninguém pode,minha filha!
Beijei-lhe as mãos e saí para deixar entrar o amigo.
Não sei o que ele lhe pediu,não sei se conseguiu...
Mas,a presença da Mãe Menininha marcou-me para sempre.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

ÔOPS,JÁ É DOMINGO!!!



Tenha um fim de semana com sol,suor e cerveja...
Deixe-se levar pelas emoções,esqueça o terno e o salto alto
leve os filhos e o cachorro para passear (não necessariamente nessa ordem)
Delete o patrão
e faça download da felicidade.
À moda baiana!...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

POIS SIM,EU ADOOOORO SER DO ANDAR DE BAIXO...


Os moradores da Cidade Alta,  onde você chega subindo o Elevador Lacerda,jamais compreenderam porque os moradores da Cidade Baixa não a trocariam por nada,nem pelo Central Park em Nova York ou os Champs Èlysèes ,em Paris.
No texto “Evolução Fisica de Salvador”,Américo Simas Filho dizia de Itapajipe:” este   sítio  oferecia pontos favoráveis,sobretudo pelos ângulos de belezas naturais,paisagens,clima aprazível e facilidade de navegação...”
Quem   nasceu ou viveu no Bonfim,na Ribeira sente-se  um peixe fora d àgua em qualquer outro canto desta cidade,mesmo os bairros chamados “nobres”,como a Barra e a Graça. Que chamamos de “os amarelões                 “,enquanto  somos chamados de ´”índios de Itapajipe”,por eles.
Pura inveja,claro,porque o meu bairro não  é para qualquer um;apreciar o pôr do sol no Monte Serrat,banhar-se nas águas despoluídas da  Praia da Boa Viagem,apreciando aquele bucólico cenário da Igrejinha do século XVI e o Forte do Monte Serrat,ora,isso é para privilegiados,meu amigo.
Não é á toa que aparecem por aqui alguns   moradores do “andar de cima”,meio  desajeitados,perguntando se tem alguma casa para alugar.Dá uma peninha ver o olhar de desalento deles...
Sem essa! Quem vive aqui,os itapajipanos legítimos,não vendem ,nem alugam.E,alguns,picados pela mosca azul,ou influenciados pelos filhos que acham a Cidade Alta,lugar de ricos e famosos,quando se mudam entram em depressão e até morrem;ou,voltam para  o colo da sua mãe ,que fica na parte baixa do Elevador.
Porque a maioria das residências aqui são casas.Casas grandes,com quintal e mangueiras,algumas em frente ao mar,frescas,belas,na sua arquitetura discreta,grandes janelas que podem até ficar abertas,pois,a criminalidade ,aqui,ainda não assusta tanto!
E,nunca vai assustar ,pois ,do alto da Sagrada Colina,o Senhor do Bonfim cuida de todos nós.
Agora me diga,meu rei,que bairro da cidade tem uma santa só dele?Moradora daqui,onde inúmeras vezes me encontrei com ela,em pessoa,carregando seus pobres nos seus frágeis braços? Pois é,Irmã Dulce,o Anjo Bom da Bahia,está aqui,ao pé de mim.
Ribeira,Bonfim,Monte Serrat,Largo do Papagaio,Largo de Roma, Porto dos Tanheiros,Rua do Fogo, nomes mágicos ,lugares mágicos,gente feliz...
Entendeu agora porque ninguém sai?
Sentamos à nossa porta à noite para tomar a fresca ,como faziam nossas avós;saboreamos o sorvete da Ribeira,o melhor do mundo, e,se quisermos,almoçamos na Pedra Furada,onde tem restaurantes de frutos do mar,muito procurados e com direito a uma vista magnífica.
Às  noite de Domingo,tem boa música na Ponta de Humaitá,um lugar divino,onde até fica a loca da Sereia,portanto,estamos ,também,protegidos por Yemanjá.
Quem precisa do Rio Vermelho,me diga?!
Alguns moradores da Cidade Alta,desinformados,acham que aqui só tem pobre.
Uma dessas moradoras,”nova rica” que tinha acabado de comprar um apê de alguns milhões no Corredor da Vitória,olhou prá mim,desdenhosa e perguntou:
-Mas,é verdade que você mora no Bonfim? Na Cidade Baixa?
-Sim,eu disse,lá nasci e me criei.E,de lá não saio,ninguém me tira.E,fico com pena de você que não mereceu morar lá...
Coitada,ela não sabia que dá uma dor danada,no peito,quando a gente sobe o Elevador.