sexta-feira, 26 de novembro de 2010

SALVE AS BAIANAS!


Já foram uma legião,mas,ainda embelezam as ruas de Salvador com seus trajes magníficos e seu tabuleiro cheio de coisas gostosas:abará,acarajé,acaçá,amoda,passarinha,bolinho de estudante,vulgarmente chamado punheta,cocada,puxa ou de colher,um desbunde de sabor e cheiro.
A roupa tradicional,uma característica das negras e mestiças,é composta  por uma saia muito rodada  e colorida de seda,com dois a quatro metros de roda de bainha,bem bufante e armada por uma anágua muito branca e engomada.Complete um cabeção de crivo.A bata é uma blusa branca,comprida e solta,de algodão,enfeitada com rendas e bicos ou também bordada de crivos,um pouco frouxa,para escorregar,sensualmente,para um dos ombros.Imprescindível,o pano da Costa,bem africano,um manto comprido de algodão listrado,atado sobre um dos ombros e preso sob o braço oposto ou enrolado com uma ou duas voltas em uma grande faixa em torno da cintura,amarrado bem justo.
Um torso ou turbante branco,á moda mourisca,provavelmente herança dos haussás,negros islamitas ou dos seus similares malês,negros fortes,guerreiros,que inclusive sabiam fundir os metais.Chinelas rasas,sem presilhas,nas pontas dos pés completam a indumentária.
Os adereços são um espetáculo á parte.Colares de coral,búzios ou contas de vidro,correntes de prata,brincos de turquesa,coral,ouro ou prata,braceletes de búzios,ferro e cobre.Pendente da cintura o balangandã ou como cita Manoel Quirino,balançançan(onomatopaico)ornamento de prata maciça,usados em dias de festa,principalmente na Lavagem do Bonfim,como canta a música:”Quem não tem balangandã não vai ao Bonfim”.Miniaturas de prata e ouro,campainhas,figas,corações,dentes,chifres,tubos,placas,chaves,frutos,cadeados,bichos,pernas,sapatinhos,tesouras,conchas,peças lavradas reunidas e presas numa argola de metal e penduradas das cintas das mulatas,negras e mestiças,dente do santo.Peças provavelmente fabricadas pelos negros de Daomé ou pelos malês.Serviam como amuleto para afastar o mau-olhado e as forças do mal.
Na Lavagem do Bonfim,a bela e tradicional festa das “Àguas de Oxalá”,elas formam um tapete branco e perfumado,subindo a ladeira,carregando seus potes de água de cheiro para lavar os degraus da Igreja.


SALVE AS BAIANAS NO SEU DIA!



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

HOJE É O DIA DA BANDEIRA!


Na Bahia de outrora,no meu tempo de criança,hasteava-se a bandeira do Brasil.Ajudada pela brisa ela balouçava ao vento (balouçava,que palavra tão antiga!?) enchendo de fervor patriótico os estudantes enfileirados para saudá-la.Afinal,estávamos falando de um símbolo da pátria,a representação da Mãe Amada,o símbolo dos seus rios,mares,verdes e florestas,riquezas e das estrelas do nosso céu,entre elas,a constelação do Cruzeiro do Sul.

A frase “Ordem e Progresso” do positivista Auguste Comte,pai da Sociologia,faixa esta que simboliza a paz,foi idéia do Benjamim Constant,positivista de carteirinha,como aliás,todos os membros da República.

As estrelas,hoje 27,representam os Estados e o Distrito Federal.A estrela solitária no alto do retângulo verde ,representa o Estado do Pará,pois é o estado mais ao Norte.

Uma curiosidade que poucos sabem é que a posição dessas estrelas reproduz o céu do Rio de Janeiro exatamente às 8.30 mts do dia 15 de novembro de 1889.

A Bandeira deve ser sempre hasteada no início da manhã e recolhida no fim da tarde;nunca deverá ficar hasteada á noite,a não ser que esteja muito iluminada.

Todos os prédios públicos devem exibi-la ,portentosa,no seu mastro;e,todos nós,os seus filhos,devem (ou deveriam) reverenciá-la nos nossos corações.

Viajando para o Exterior,sinto uma imensa sensação misto de orgulho,felicidade,segurança quando vejo exibida aos olhos do povo,bela e soberana,tremulando ao vento ,a nossa Bandeira,retrato do meu país.



HINO À BANDEIRA


Salve lindo pendão da esperança!


Salve símbolo augusto da paz!

Tua nobre presença à lembrança

A grandeza da Pátria nos traz.



Recebe o afeto que se encerra

em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!



Em teu seio formoso retratas

Este céu de puríssimo azul,

A verdura sem par destas matas,

E o esplendor do Cruzeiro do Sul.



Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!



Contemplando o teu vulto sagrado,

Compreendemos o nosso dever,

E o Brasil por seus filhos amado,

poderoso e feliz há de ser!



Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!



Sobre a imensa Nação Brasileira,

Nos momentos de festa ou de dor,

Paira sempre, sagrada bandeira

Pavilhão da justiça e do amor!



Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

Apresentado pela 1ª vez em 9/11/1889
Letra de Olavo Bilac
Música:Maestro Francisco Braga




FALA,LEITOR:


1/11/10 03:47 - Ivone Alves SOL




Um bela alusão ao nosso símbolo maior,Miriam. Bem, acho que fiz

diretinho com os meus alunos, entoando o hino á Bandeira (letra de

Olavo Bilac e Musíca de Francisco Braga),enquanto ela era hasteada na

escola onde ensino. Foste muito feliz ao notoriar a relevancia do

patriotismo. Um beijo grande amiga que amo!


20/11/10 21:17 - Simone C R




Boa noite, Miriam. Gostei muito de sua crônica e do respeito que

demonstras com nossa bandeira. Parabéns! Obrigada por sua visita e

comentários. Virei ler-te mais vezes. Abraços!


21/11/10 17:00 - Maria Olimpia Alves de Melo




Naquele tempo em que a bandeira balouçava ao vento talvez não

tivessemos tanto motivo para nos orgulharmos do nosso pendão da

esperança mas certaemente não sentíamos tanta vergonha de nossos

dirigentes. E como cada povo tem o governo que merece, acho que

realmente somos um país de corruptos de todos os níveis e aqueles que

não o sã0, sinceramente não temos motivo de nos orgulharmos de muita

coisa.


22/11/10 21:47 - Ruy Silva Barbosa

Boa noite Bandeira questa nos nossos navios nos nossos aviões e que
subiram Monte Castelo no dia 21 de fevereiro. Bandeira que hoje
esta no haity e na Africa.Parabens a voce por tudo sobre a Bandeira
.Hoje aniversário de Niterói e fiz uma homenagem a Gentileza e em sua
figura parabezei minha cidade



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

NÃO CONSIGO IR EMBORA DA BAHIA





Acabaram minhas férias e continuo aqui.
Mesmo que eu viaje depois do Carnaval, levarei a Bahia comigo.
Não se trata de louvá-la; quero entendê-la, não com a cabeça, mas com o corpo, com as mãos, com o nariz, entender como um cego apalpa um objeto, entender por que este lugar é tão fortemente estruturado em sua aparente dispersão. Aí, descubro que, ao contrário, a Bahia me ajuda a "me" entender.
Não sou eu quem olha; a Bahia é que me olha de fora, inteira, sólida, secular, a paisagem me olha e fica patente minha alienação de carioca-paulista, fica evidente meu isolamento diante da vida, eu, essa estranha coisa aflita que está sempre entre um instante e outro, sem nunca ser calmo, consciente e feliz como um animal.
Na Bahia, vejo-me neurótico, obsessivo, sempre em dúvida, ansioso.
Gostaria de estar na Praia de Buraquinho, quieto, dentro do mar, como um peixe, como parte da geografia e não fora dela.
Ninguém aqui se observa vivendo.
Salvador não é uma "cidade partida" como é o Rio, nem a cidade que expele seus escravos, como São Paulo, que um dia será castigada, estrangulada por sua periferia.
Aqui, de alguma forma misteriosa, os pobres e negros, mesmo sem posses, são donos da cidade.
A cultura africana que chegou nos navios negreiros, entre fezes e sangue, parece ter encontrado a região ideal neste promontório boiando sobre o mar, batido de um vento geral, para fundar uma cidade erótica e religiosa, plantada nos cinco sentidos, fluindo do corpo e da terra.
 Os casarios subiram os montes, desceram em vales por necessidade dos colonos e dos escravos do passado, o espaço urbano foi desenhado pelo desejo dos homens.
A Bahia foi o lugar perfeito para a África chegar.
Tudo se sincretiza, natureza e cultura.
Espírito e matéria se unem como um bloco só, amores e vinganças fluem no sangue dos galos e dos bodes, esperanças queimam nas velas de sete dias, todas as coisas se amontoam num grande procedimento >barroco de não deixar vazio algum, nada que sobre, que fique fora, nada que isole matéria e gente.
Os deuses não estão no Olimpo; são terrenos e florestais, estão na rua, no dendê, dentro da planta.
Consciência e realidade não se dividem, o povo e o mundo são a mesma coisa, e isso aplaca as neuroses, as alienações das megacidades, onde o homem é um pobre diabo perdido no meio dos viadutos.
Como nas fotos do Mário Cravo Neto, tudo se une em um só bloco: o alvo pato e a mão negra, a mulher nua e a pedra, o nadador, o sol e a água, as frutas, os cestos e as bocas, as plantas e os pés, os búzios e os segredos, os santos e os orixás, as mãos e tambor, a fome e a carne, o sexo e a comida.
 Tenho uma espécie de inveja e saudade desta cultura integrada, dessa sociedade secreta que vejo nos olhares das pessoas falando entre si, uma língua muda que não entendo, tenho inveja da palpabilidade de suas vidas materiais, tenho inveja da grande tribo popular que adivinho nos becos e ladeiras, das pessoas que riem e dançam nas beiras de calçada, que se amam na beira-mar, tenho inveja desta cultura calma que vive no "presente", coisa que não temos mais nas "cidades partidas", sem passado e com um futuro que não cessa de não chegar.
Nesta época maníaca e americana, que se esvai sem repouso, aqui há o ritmo do prazer, a "sábia preguiça solar" de que falou Oswald e que Caymmi professa.
A civilização que os escravos trouxeram criou esta "grande suavidade", este mistério sem transcendência, este cotidiano sem ansiedade, esta alegria sem meta, esta felicidade sem pressa.
Aqui a cultura vem antes da lei.
Aqui o soldado na guarita é um negro com passado e orixás, dentro da roupa de soldado.
O bombeiro, o vendedor, o pescador, o vagabundo se comunicam e existem antes das roupagens da sociedade.
 Até se travestem, se fantasiam de si mesmos nos horrendos resorts caretas da burguesia, mas não perdem a alma para o diabo, defendidos pela vigilância de seus Exus.
 A sinistra modernidade tenta adquirir a Bahia, possuí-la, apropriar-se das praias, das ilhas, dos panoramas. Mas mesmo o progresso urbano e tecnológico aqui fica domado de certo modo pela cultura, que resiste a esses embates.
 Os balneários turísticos aqui me parecem meio patéticos, meio
Miami, na vivência luxuosa dos acarajés, camarões e uísques trazidos por serviçais iaôs e mordomos de cabeça feita.
Aqui não se vêem os rostos torturados dos miseráveis do Rio e de São Paulo: a pobreza tem uma religião terrena costurando tudo.
As festas do ano inteiro não são diversionistas, orgiásticas, para "divertir - são para integrar.
As festas têm uma religiosidade pagã, sem sacrifícios, sem asceses torturadas de olhos virados para o céu.
Nada sobrou do barroco europeu sofrido; só prosperou o barroco gordo, pansexual, com as frutas, os anjinhos nus, os refolhos e os ouropéis invadindo o convulsivo barroco da contra-reforma, com as curvas carnavalescas nas igrejas cheias de cariátides peitudas, sexies, gostosas, como as mulatas do Pelourinho.
Não é uma sociedade, mas um grande ritual em funcionamento.
O Brasil aflito, injusto, imundo, inóspito devia aspirar a ser Bahia.
Aqui dá para esquecer o jogo sujo do Congresso em Brasília, revelando a face oculta dos bandidos com imunidade, calhando a democracia, aqui você não morre afogado na enchente da marginal Tietê, nem o Ronaldinho é >assaltado com revólver na cabeça.
Não conheço lugar mais naturalmente democrático.
E, por isso, não consigo ir embora.
Vou comprar uma camiseta "NO stress" e ficar bebendo frappé de coco para  sempre.
                                                                            Arnaldo Jabor,cineasta,escritor e jornalista .

domingo, 7 de novembro de 2010

CARNAVAL!

Gandhy na avenida
alegria garantida.
Um culto á vida!
                Miriam Sales,escritora baiana

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

POEMA DE ILDÁSIO TAVARES


TUA DUNA


arqueio de mel
sobre o branco
coaduna
este ardor que me brota
no flanco
que provoca em meu corpo o arranco—
o vibrar do pincel
nesta tela de mel,
caracol de papel
(lá no fundo o anel)
mar e céu.

        Luz Oblíqua (1982-1988)


ILDÁSIO TAVARES
Nasce na fazenda de São Carlos, na região de Grapiúna da Bahia. Estudou direito mas se licenciou em Letras pela Universidade Federal de Bahia. Publicou artigos de filosofia, contos e realizou numerosas traduções. Realizou estudos universitários em língua inglesa. Doutorou-se pela UFBA em Literatura Portuguesa. Morto recentemente,deixou muitas saudades entre seus amigos e um vazio na literatura baiana.